Carta a Agressora

O que leva uma pessoa a invandir minha casa e espancar minha irma? O que leva alguem a me seguir as escondidas durante quase um mes para saber meu nome, onde moro, e sei la mais o que? Sera o fato de ter sido abandonada pelos proprios filhos? Sera a falta de alguem para amar? Por que nao buscou ajuda? Nao me importo. Nao estou disposta a perdoar o que voce, sra. Agressora, fez a minha familia. Nao sinto medo. Sinto uma mistura nojenta de raiva, pena e inutilidade. Nao raiva de voce, sra. Agressora, mas do que voce me fez. Sinto pena. Nao da sra., mas do seu estado de espirito. Voce tem vergonha de pedir ajuda, seus filhos fugiram por medo da sra. e seu marido a trocou por alguem mentalmente sadia. E, voce, do alto dos seus 78 anos, por loucura ou excesso de remedios controlados [quem sabera responder??] resolve ocupar seu tempo invadindo a minha casa quando eu estava adormecida para espancar a minha irmanzinha. Por que ela? Muitos insistem em dizer que ela "nao passa de uma criança". Mas nao, sra., estao todos eles enganados. Edna é muito mais do que apenas isso. Ela tem mais equilibrio mental do que a sra., tem um sorriso encantador que a sra. nunca tera, e nem conseguira apagar, e tem manias que cativam ate a alma de um desconhecido. Por que nao te cativaram? Pois bem, sera a sra. um corpo vazio, opaco em sua loucura? Nao, acho que nao. O que te falta é carinho. Nao tem mais o ombro de sua familia sobre o qual a sra. costumava se esconder no auge de suas crises. Nao passa de uma coitada, de uma covarde. Teria a sra. agredido alguem capaz de se defender a altura? Teria a sra. medido as consequencias de seus atos? Nao! Nao passa de uma louca. E, por ultimo, me sinto inutil. Por nao ter podido defender aquela pessoa que eu mais amava no momento em que ela mais precisou, graças a um sonifero possivelmente [nao restam duvidas, mas sim, provas.] administrado pela sra. enquanto eu dormia. Eu nao a odeio. Nao sinto raiva de voce. Tampouco pretendo te perdoar ou te ajudar. Jamais faria uma coisa dessas. Enquanto escrevo essa carta, minhas lagrimas caem sobre o papel, nao de tristeza, mas, de raiva, nao da sra., mas da liberdade que te conferem. Mas agora paro de chorar. A sra. jamais sera livre. Por mais que escape da justiça sera pra sempre prisioneira de seu odio, de sua loucura, de seu ressentimento. Esta para sempre condenada a passar seus ultimos anos trancafiada entre as grades da agonia, da falta de paz espiritual. Edna sigue sorrindo, acalmando a todos. A sra. nao chega aos pes dela. É uma pena por que, por mais que tentes uma fuga desesperada, nao tens para onde ir. Nao podes fugir de seus proprios pensamentos. Sua loucura e seu desamparo te perseguirao para sempre. Seguro firme a caneta agora. Minhas maos nao tremem mais. Sei que sofrera durante esses ultimos anos de sua vida, e, sua sentença te aguarda no inferno. Nao cabe a mim julga-la, é um fato. Mas nao posso evitar. Quem de nos duas sera que tem mais direitos aqui? Daqui a dois dias sera o julgamento. Daqui a dois dias, olharei dentro de seus olhos pela primeira vez. O que verei? Nao sei, mas vou estar preparada. Acho que verei um poço profundo, um enorme vazio, um abismo no qual a sra. caiu e de onde já nao pode mais retornar. Acho que verei os delirios de uma louca. Acho que nao verei nenhum brilho, mas talvez eu veja uma lagrima. Um pedido de ajuda. Lamento por ter perdido sua vida inteira em atos de loucura como esse. Mas nao espere meu perdao. Nao cabe a mim julgar nada agora. A minha irma, Edna, a ela sim voce deve desculpas. Ma talvez ela as despreze. Seria compreensivel. Mas, por ser uma pessoa maravilhosa e imprevisivel, talvez ela se apiede do monstro horrendo que a sra. se tornou pra ela. Mas, aos meus olhos, voce sempre sera alguem terrivel, alguem que precisa de ajuda, alguem a quem todos, ate a propria familia temem, e por isso negam se aproximar, tem medo de olhar em sua face. Eu sinceramente lamento muito. Mas nao por voce.

Meus sinceros pesames,

Eva.