quinta-feira, 8 de abril de 2010

Colegio...


Quando acordei, nao estava chuvendo, apesar de estar bem nublado. Pensei que poderia ir pra escola a pé, coisa que eu nao fazia a muito tempo. É claro que choveu no meio do caminho. E é claro que eu nao tinha nenhum trocado pra pagar sequer uma passagem de onibus. E é obvio, que, por causa de tudo isso, cheguei encharcada na escola, com o cabelo pingando e tudo o mais. Me sentei no meu lugar de sempre, terceira fila a esquerda, perto da janela grande que da para aquela praça que eu nunca me lembro o nome. Eu estava ocupada demais tentando nao dissolver o papel reciclado do meu caderno com as gotas que escorriam pela minha cara para perceber quem havia se sentado justamente ao meu lado, e, quando eu percebi todos os outros lugares ja tinham sido ocupados, de maneira que era tarde demais. Quem estava ao meu lado era Michaell.
E, por incrivel que pareça, nao houve nada demais. Nada de bilhetinhos, nem cantadas, nem brincadeirinhas, nem nada. So a aula de calculo algébrico. Quando tocou o sinal pro recreio, eu ja estava na defensiva, esperando alguma coisa... e nada denovo. [Acho que eu ja estou ficando traumatizada e paranoica. Toda vez que toca o sinal pro recreio alguem me pede pra esperar e acontece alguma coisa, ja perceberam?]. Pois bem. Durante o recreio nao houve nada... mesmo porque o Julio e a Marichello parecem ter matado a aula hoje. Quando eu estava subindo a escada, porem... Michaell me pediu pra esperar. E eu continuei subindo, porque ja tinha aprendido suficientemente pra saber reconhecer uma encrenca de longe, quando ela aparece. Mas ele me alcançou. [PS: isso é uma "traduçao" do que ele me disse pro portugues brasileiro. Aqui eles falam tipo, 'tu vens, tu vais, tu entras, tu chegaste, tu foste, etc.]. Ele disse: "Sobre aquele dia, me desculpe.". E eu fiquei olhando pra cara dele, esperando a piada ou a brincadeira que deveria vir em seguida. Nao veio. Demorei mais de meio minuto pra organizar meus pensamentos antes de responder. Eu: "Tudo bem. Sinto muito pelo nariz do seu amigo". [eu disse, apesar de no fundo ter quebrado o nariz dele é uma das coisas de que eu mais me orgulho na vida]. Ele riu e disse: "Ate mesmo a bondade, se em demasia, morre do proprio excesso". Eu fiquei olhando sem entender por uns dois minutos. Ele suspirou e explicou: "Uma citaçao de Shakespare. 'Ode à bondade'". Eu: "Vc leu muito enquanto etava na prisao?". Disse indicando com um gesto a musculatura avantajada dele. Ele sorriu meio sem graça. Ele: "Nao, é serio. Eu so queria te assustar... nunca ia... bom, eu nunca iria te fazer mal". Tá. Sei. Uhum. E a minha avo é um duende. Eu: "Claro.". Ele estendeu a maozona para mim: "Amigos, entao?". Reprimi o impulso de sair correndo, engoli uma saliva que tinha o gosto e a consistencia de cimento, e forcei um sorriso que quase nao saiu. Eu: "Entre para um curso de teatro. Por um instante, vc quase me convenceu.". Dei as costas, sem apertar a mao dele e, em vez de continuar subindo a escada, desci e fui pra saida do colegio. A proxima aula era fisica com o professor Zafón, que fica o tempo todo contando historias nojentas de crianças subnutridas que botam vermes pela boca e nariz. Nao estava com cabeça pra isso, e saí do colegio mesmo sabendo que estava deixando todas as minhas coisas na sala de aula. [Com exceçao do celular, que estava no meu bolso.] Inventei pro porteiro uma historia de colica, e ele me deixou passar. Fui pro cafe onde eu e Julio haviamos escolhido o nome da minha protagonista, dias atras, no dia em que Michaell e os amigos dele aprontaram. E foi aí que eu percebi o quanto eu sentia falta dele. Nao tinha ninguem pra rir comigo [ou de mim] quando o garçom pediu pra eu me retirar se nao tivesse dinheiro. E nao tinha ninguem pra eu comentar o que tinha acontecido. Ninguem. Nem pra me emprestar o casaco, dizendo que eu pegaria um resfriado com o cabelo molhado naquele frio. Pelo menos ele esta feliz com a Marichello, ou foi o que me pareceu. Depois percebi, com um aperto no coraçao, que eu havia esquecido meu caderno de escritos no colegio, junto com o material!!! Aaaah, mas que droga. Escrevi tudo isso agora, no computador mesmo, porque acabei de chegar em casa. Para a minha mãe, dei a mesma desculpa de colica. Depois eu passo a limpo, ou nao, sei la. A verdade é que nao sei de mais nada: Michaell nao estava sendo sincero, com certeza era so um pretesto pra se aproximar de mim. Julio nao me da noticias a quase dois dias, e, ate onde eu sei, ele pode estar com Marichello, ou em um aviao pro Rio de Janeiro agora mesmo. Meu livro chegou em um momento de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, e Edna esta quieta, o que é bem estranho.


Alguem porfavor, me tire daqui e me leve pro Brazil.

Um comentário:

  1. Evinha, estou aqui até meu filho chegar...rs...meu msn é kaepe9@hotmail.com...se precisar de mim estou por aqui...bjs.

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